quinta-feira, 14 de maio de 2009

Movimento ambientalista e ideologia


No desencadear da grande crise capitalista de 1973 assumem relevância na agenda política internacional análises focadas na questão ambiental, a exemplo do primeiro relatório do Clube de Roma e sua orientação sobre a necessidade do crescimento zero como meio de equilibrar os recursos ambientais disponíveis em escala global (Meadows, 1992). Nessa atmosfera onde emergiu a necessidade de estabelecer, no mínimo, limitações mais nítidas ao uso desenfreado das inovações tecnológicas, sob pena de comprometimento da qualidade da vida em termos imediatos e sua inviabilização para futuras gerações, Ignacy Sachs, conferencista convidado à Conferência preparatória da I Conferência Mundial sobre Meio Ambiente, realizada em 1972 em Forneux, Suíça, empregou pela primeira vez o termo ecodesenvolvimento, referindo-se a um tipo de desenvolvimento centrado na busca do equilíbrio no uso dos recursos ambientais visando sua conservação para futuras gerações. Porém, esse despertar para meio ambiente não é novo, tem história e está permeado por vários matizes ideológicos.

Na virada do século, conforme salienta Héctor Ricardo Leis (1998), o ambientalismo começou lentamente a sair de sua fase estética, na medida em que as diversas posições sobre o mundo natural começaram a encarnar-se em atores diferenciados. Surgia o debate entre preservacionistas e conservacionistas, o qual foi bem sintetizado no conflito entre as propostas de Pinchot e Muir (que, embora fossem americanos, representavam posições que se encontravam tanto dentro como fora dos Estados Unidos). Inspirados em Muir, os preservacionistas adotavam posições mais radicais, buscando preservar as áreas virgens de qualquer uso, permitindo nelas apenas atividades recreativas ou educacionais. Guiados por Pinchot, os conservacionistas tinham uma atitude mais moderada, pretendendo que os recursos naturais fossem explorados de um modo racional que os protegesse de sua degradação. Em uma linha próxima ao biocentrismo de White, Thoreau e Marsh, Muir não reconheciam nos seres humanos nenhum direito especial sobre o resto das espécies.

Nas últimas décadas as concepções ligadas aos movimentos ambientalistas polarizaram-se basicamente entre o ecocentrismo (biocentrismo) e o antropocentrismo/tecnocentrista. Vale ressaltar que estas tendências conceituais têm origem nos pensamentos da Ecologia Profunda, da Ecologia Social e do Eco-Socialismo/Marxismo.

A corrente de pensamento denominada Antropocentrismo atua na dicotomia entre a natureza e o homem, sendo dado a este o direito de posse e controle dos recursos naturais por meio da utilização de meios científicos e tecnológicos de que ele dispõe. Ela se baseia na hipótese de que a natureza não possui valor em si, mas constitui numa reserva de recursos naturais a serem explorados pela humanidade. Dessa forma, o legado cultural das atividades do homem junto à natureza é legitima e benéfica, apontando para uma perspectiva conservacionista na relação homem-natureza. Nessa concepção destaca um ambientalismo mais antropocêntrico e utilitarista que era compatível com o desenvolvimento econômico, assegurando a máxima utilização sustentável dos recursos naturais, contando com um eficiente controle do Estado. É exatamente a possibilidade do homem atuar sobre a natureza, enquanto operador independente de qualquer sensitividade e envolvimento, que alicerça os argumentos daqueles mais identificados com a postura ideológica antropocentrista do ambientalismo (McCormick, 1992).
O pensamento Tecnocentrista (tecnocentrismo) se caracterizada pelo otimismo tecnológico; pela postura científica e pela racionalidade econômica embasada na escola neoclássica. Esse pensamento considera que temos uma prateleira de soluções, bastando à sociedade acessá-las e utilizá-las dando ênfase a externalidade do processo. Destaca-se pela solução de problemas através de gestão eficiente, amparada em análise objetiva e nas leis das ciências físicas.

As modernas raízes filosóficas do tecnocentrismo estão na revolução tecno-científica do século XVII, e na confiança que passa a existir na ciência e na tecnologia para superar os problemas. Com Descartes e Bacon, a uniformidade das leis da natureza adquire importância sobre as diferenças e a interação, com isto o conhecimento da natureza se converte em instrumento para sua transformação. A natureza, como esfera separada ou justaposta à sociedade humana — onde o ser humano impõe seu domínio, confiando para isso no desenvolvimento tecnológico— conduz ao que denominamos posições tecnocentristas. Esta corrente de pensamento é também antropocentrista, na medida em que a atuação sobre o meio está condicionada pelas próprias necessidades e interesses humanos (McCormick, 1992).

A concepção biocentrismo ou ecocentrismo se baseia no fato de que o mundo natural possui um valor em si mesmo, independendo de sua utilidade para o homem. Trata-se de uma visão purista (preservacionista) da natureza, em que o ambiente natural deve permanecer intocado e intocável na sua forma primitiva, sujeito somente ao curso da evolução natural. Em nome do equilíbrio ecológico, as atividades do homem são incompatíveis com esse estado de preservação da natureza. As escolas do pensamento ecológico que apóiam essa idéia são a Ecologia Profunda e a Ecologia Social (Leis, 1998).

As modernas origens filosóficas do ecocentrismo, conforme salienta McCormick (1992), estão no pensamento romântico dos séculos XVII e XVIII, que se apresenta como crítica ao incipiente capitalismo e uma reivindicação da natureza selvagem. O ecocentrista caracteriza-se pelos românticos americanos que advogavam democracia entre as criaturas de Deus. Distinguindo-se pelo forte apelo ético e espiritual, cuja defesa da natureza se apoiava fundamentalmente em instituições da sociedade civil. Preservacionista (contemplação) e conservacionista (manejo).

Ambas as correntes de pensamento, a ecocentrista e a tecnocentrista, hoje em dia, utilizam amplamente os resultados da ciência para fundamentar suas posições. Só que cada uma, segundo sua própria ótica, chega a resultados diferentes. Enquanto os tecnocentristas reivindicam as possibilidades humanas de administrar e dominar a natureza, partindo da ciência analítica convencional, os ecocentristas reivindicam as relações de harmonia com a natureza, apoiando-se na ecologia e nas leis da termodinâmica.

Referência Bibliográfica:

MCCORMICK, John. Rumo ao Paraíso. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1992.

LEIS, Héctor R. A Modernidade Insustentável: As críticas do ambientalismo à sociedade contemprânea. 1998. Disponível em http://www.ambiental.net/coscoroba/LeisParte1.pdf. Acessado em: 18/05/2007.
MEADOWS, D. et all. Os Limites do Crescimento. São Paulo: Perspectiva, 1992.

Por: Fabrizio de A. Ribeiro
www.fabrizioribeiro.blogspot.com

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