sexta-feira, 29 de maio de 2009

Aonde está a nossa falha no quesito C,T&I?



O Brasil alcançou a 13ª posição na classificação mundial em produção científica em 2008, ultrapassando a Rússia (15ª) e a Holanda (14ª), de acordo com informações da Web of Science divulgadas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). De 19.436 artigos publicados em 2007, a produção brasileira subiu para 30.415 em 2008, com um aumento de 56%, como resultado, segundo a Capes, da atuação das universidades e centros de pesquisa que atuam na pós-graduação universitária. (Fapesp, 2009)


A minha maior preocupação é saber como essas produções científicas têm impactado, transformado o cotidiano dos milhões de brasileiros que estão na miséria. O Brasil avança na produção científica, mas a cruel desigualdade social ainda persiste. Isso sem fala do impacto no meio ambiente. Aonde está a nossa falha no quesito C,T&I? Considero que o "nosso erro" está no enfoque adotado na Política Científica e Tecnologica que vai do modelo Ofertista-Linear ao enfoque Evolucionário, sempre emulando a pauta, problemas e soluções desenvolvidas nos países centrais e outra, não mesmo importante, consiste no mito da neutralidade da C,T&I .


No modelo Ofertista-Linear as reflexões geram respostas inadequadas aos problemas latino-americanos (exs: estímulo a formas particulares de relações entre universidades e o setor produtivo; estímulo ao aumento do número de mestres e doutores como condição suficiente para alavancar o desenvolvimento em C&T...). O enfoque Evolucionário construído nos países centrais tem o foco analítico nas empresas e como elemento chaves a tão venerada inovação.


Nos próximos meses estaremos discutindo os interesses e impactos desses modelos no processo de desenvolvimento brasileiro, bem como os enfoques que oferecem alternativas a política hegemônica de Ciência, Tecnologia e Inovação.
por: Prof. Fabrizio de Almeida Ribeiro

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Etanol e a mitigação das mudanças climáticas

Por: Fabrizio A. Ribeiro



Os professores VIANNA, J.N.S.; DUARTE, L.M.G; WEHRMANN, M.E.S.F, no artigo Contribuição do Etanol para mitigação das mudanças climáticas buscam fazer uma avaliação preliminar do potencial da cadeia produtiva e o uso do etanol como combustível, na redução das emissões de gases de efeito estufa. Para isso, são analisados dois elos da cadeia produtiva.
a). A colheita manual da cana-de-açúcar;
b). O uso do etanol como combustível exclusivo e a mistura com a gasolina.

A base metodológica do trabalho consiste em identificar as diversas recomendações e conclusões do Relatório do IPCC e sua relação na cadeia produtiva do etanol; ferramentas utilizadas no Relatório de Referência do MCT (2006); estudo comparativo entre emissões resultantes do uso do etanol e da mistura gasolina-álcool em veículos leves.

Sobre a queima da palha para a desfolhagem, na colheita manual da cana-de-açúcar, foi ressaltada a geração de aproximadamente 77x106 tonelada de CO². Destacando que, somente 3,57 x106 toneladas têm efeito sobre o aquecimento global. E que devemos levar em consideração o avanço da mecanização da colheita que impacta diretamente na redução emissão de CO², e a comercialização do crédito de carbono.

O tocante ao uso do etanol como combustível foi salientado que, em 2007 a frota de veículos leve foi estimada em 19.446.027 automóveis: 14.396.542 veículos a gasolina, 2.631.696 veículos a álcool e 2.417.798 veículos Flex. Essa frota foi submetida a dois métodos de estimativa de emissões veiculares (IPCC, 2006). O primeiro consiste em analisar o consumo de combustível e o segundo a distância média percorrida. A partir da distância média percorrida e o número de veículos são projetados as emissões de gases para cada combustível. Vianna, afirma que “o uso do etanol puro ou misturado à gasolina traz benefícios ambientais.

A adição de álcool atribui à gasolina qualidade anti-detonante, dispensando o uso do chumbo, altamente maléfico à saúde humana, melhorando a eficiência energética do moto, (...) e evitando a emissão 9,9 Mt de CO²”, com base na frota atual.

O etanol proveniente da cana-de-açúcar se diferencia pelo seu reduzido impacto ambiental em relação às fontes fósseis de energia. Porém, esse processo deve ser acompanhado por um forte esquema de planejamento, controle e fiscalização com vistas às preocupações ambientais. Ademais, os impactos ambientais do etanol devem ser analisados em toda sua cadeia produtiva e não de forma isolada, assim como os combustíveis fósseis.
Vale ressaltar que as pesquisas voltadas para o desenvolvimento comercial de novas tecnologias para a obtenção de álcool a partir de celulose e a biotecnologia (biocombustíveis de 2ª geração) prometem dar um novo impulso á produção mundial de etanol e na mitigação dos problemas climáticos.

Fabrizio de Almeida Ribeiro

terça-feira, 19 de maio de 2009

Energia Eólica e Sustentabilidade



Por: Fabrizio A. Ribeiro

O olhar sobre o projeto de Energia Eólica do estado do Ceará serão considerados as sete dimensões da sustentabilidade (ecológica, econômica, social, espacial, cultural, tecnológica e política). O trabalhabo publicado pelos José C. Barbieri e Allene C. Lage está estruturado em três grandes eixos, a saber:

O primeiro consiste na apresentação sucinta do desdobramento histórico e as dimensões do desenvolvimento sustentável. Ressaltando a importância da gestão integrada dos recursos naturais; a criação de novos mecanismos no setor produtivo, integrado e de base local; atendimento as necessidades essenciais da sociedade; ampliação da infra-estrutura e a desconcentração das atividades econômicas do centro urbano; preservação da diversidade cultural local; desenvolvimento tecnológico que considere as demandas da sociedade local; e a criação de condições para a participação efetiva da sociedade civil, no planejamento e controle social das políticas públicas.

No segundo eixo temos a descrição do Parque Eólico modelo do Mucuripe, no estado do Ceará, ressaltando que a experiência serviu de comprovação da “viabilidade da produção de energia em escala comercial e da disponibilidade na rede elétrica sem causar problemas no sistema elétrico”. Comparada a outras alternativas de geração nessa região, a eólica oferece condições econômicas competitivas.

No último eixo do trabalho são apresentadas análises do projeto nos parâmetros das dimensões da sustentabilidade. Destacando questões como: rota migratória de pássaros; deslocamento de populações nativas; remanejamentos de fauna e flora; preço da energia a curto e longo prazo; alternativa as regiões mais carentes; incremento na infra-estrutura nas zonas rurais; “a relação do vento com a vida cotidiana e social dos cearenses”; projetos culturais e sociais; a interação ciência tecnologia e sociedade; e a participação social no planejamento e acompanhamento das políticas públicas.

A carência de metodologias de análises de projetos orientados para o desenvolvimento sustentável, aliada ao pensamento imediatista – curto prazo, político eleitoreiro, mecanicista, foco no retorno financeiro, limita a produção de um olhar abrangente que considere a questão energética na suas várias dimensões.

A partir dessa análise o autor sugere a necessidade e a funcionalidade da aplicação das dimensões da sustentabilidade como critérios de avaliação de projetos com o perfil de sustentabilidade.

A temática de uma matriz energética sustentável nos impele a pensar além da dimensão econômica, incluindo necessidades, no caso específico do Brasil, como reforma agrária, reestruturação industrial, a urbanização, mudanças no padrão tecnológico, dentre outros elementos. Um fator fundamental é a produção de uma política energética brasileira que seja o denominador comum de um processo de planejamento estratégico orientado para os interesses da sociedade brasileira em detrimento da visão mercadológica de curto prazo.

Referência bibliográfica:
LAGE, Allene C.; BARBIERI, José C. Avaliação de projetos para o desenvolvimento sustentável: Uma análise do projeto de Energia Eólica do estado do Ceará com base nas dimensões da sustentabilidade.

Prof. Fabrizio de Almeida Ribeiro
http://fabrizioribeiro.blogspot.com/

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Movimento ambientalista e ideologia


No desencadear da grande crise capitalista de 1973 assumem relevância na agenda política internacional análises focadas na questão ambiental, a exemplo do primeiro relatório do Clube de Roma e sua orientação sobre a necessidade do crescimento zero como meio de equilibrar os recursos ambientais disponíveis em escala global (Meadows, 1992). Nessa atmosfera onde emergiu a necessidade de estabelecer, no mínimo, limitações mais nítidas ao uso desenfreado das inovações tecnológicas, sob pena de comprometimento da qualidade da vida em termos imediatos e sua inviabilização para futuras gerações, Ignacy Sachs, conferencista convidado à Conferência preparatória da I Conferência Mundial sobre Meio Ambiente, realizada em 1972 em Forneux, Suíça, empregou pela primeira vez o termo ecodesenvolvimento, referindo-se a um tipo de desenvolvimento centrado na busca do equilíbrio no uso dos recursos ambientais visando sua conservação para futuras gerações. Porém, esse despertar para meio ambiente não é novo, tem história e está permeado por vários matizes ideológicos.

Na virada do século, conforme salienta Héctor Ricardo Leis (1998), o ambientalismo começou lentamente a sair de sua fase estética, na medida em que as diversas posições sobre o mundo natural começaram a encarnar-se em atores diferenciados. Surgia o debate entre preservacionistas e conservacionistas, o qual foi bem sintetizado no conflito entre as propostas de Pinchot e Muir (que, embora fossem americanos, representavam posições que se encontravam tanto dentro como fora dos Estados Unidos). Inspirados em Muir, os preservacionistas adotavam posições mais radicais, buscando preservar as áreas virgens de qualquer uso, permitindo nelas apenas atividades recreativas ou educacionais. Guiados por Pinchot, os conservacionistas tinham uma atitude mais moderada, pretendendo que os recursos naturais fossem explorados de um modo racional que os protegesse de sua degradação. Em uma linha próxima ao biocentrismo de White, Thoreau e Marsh, Muir não reconheciam nos seres humanos nenhum direito especial sobre o resto das espécies.

Nas últimas décadas as concepções ligadas aos movimentos ambientalistas polarizaram-se basicamente entre o ecocentrismo (biocentrismo) e o antropocentrismo/tecnocentrista. Vale ressaltar que estas tendências conceituais têm origem nos pensamentos da Ecologia Profunda, da Ecologia Social e do Eco-Socialismo/Marxismo.

A corrente de pensamento denominada Antropocentrismo atua na dicotomia entre a natureza e o homem, sendo dado a este o direito de posse e controle dos recursos naturais por meio da utilização de meios científicos e tecnológicos de que ele dispõe. Ela se baseia na hipótese de que a natureza não possui valor em si, mas constitui numa reserva de recursos naturais a serem explorados pela humanidade. Dessa forma, o legado cultural das atividades do homem junto à natureza é legitima e benéfica, apontando para uma perspectiva conservacionista na relação homem-natureza. Nessa concepção destaca um ambientalismo mais antropocêntrico e utilitarista que era compatível com o desenvolvimento econômico, assegurando a máxima utilização sustentável dos recursos naturais, contando com um eficiente controle do Estado. É exatamente a possibilidade do homem atuar sobre a natureza, enquanto operador independente de qualquer sensitividade e envolvimento, que alicerça os argumentos daqueles mais identificados com a postura ideológica antropocentrista do ambientalismo (McCormick, 1992).
O pensamento Tecnocentrista (tecnocentrismo) se caracterizada pelo otimismo tecnológico; pela postura científica e pela racionalidade econômica embasada na escola neoclássica. Esse pensamento considera que temos uma prateleira de soluções, bastando à sociedade acessá-las e utilizá-las dando ênfase a externalidade do processo. Destaca-se pela solução de problemas através de gestão eficiente, amparada em análise objetiva e nas leis das ciências físicas.

As modernas raízes filosóficas do tecnocentrismo estão na revolução tecno-científica do século XVII, e na confiança que passa a existir na ciência e na tecnologia para superar os problemas. Com Descartes e Bacon, a uniformidade das leis da natureza adquire importância sobre as diferenças e a interação, com isto o conhecimento da natureza se converte em instrumento para sua transformação. A natureza, como esfera separada ou justaposta à sociedade humana — onde o ser humano impõe seu domínio, confiando para isso no desenvolvimento tecnológico— conduz ao que denominamos posições tecnocentristas. Esta corrente de pensamento é também antropocentrista, na medida em que a atuação sobre o meio está condicionada pelas próprias necessidades e interesses humanos (McCormick, 1992).

A concepção biocentrismo ou ecocentrismo se baseia no fato de que o mundo natural possui um valor em si mesmo, independendo de sua utilidade para o homem. Trata-se de uma visão purista (preservacionista) da natureza, em que o ambiente natural deve permanecer intocado e intocável na sua forma primitiva, sujeito somente ao curso da evolução natural. Em nome do equilíbrio ecológico, as atividades do homem são incompatíveis com esse estado de preservação da natureza. As escolas do pensamento ecológico que apóiam essa idéia são a Ecologia Profunda e a Ecologia Social (Leis, 1998).

As modernas origens filosóficas do ecocentrismo, conforme salienta McCormick (1992), estão no pensamento romântico dos séculos XVII e XVIII, que se apresenta como crítica ao incipiente capitalismo e uma reivindicação da natureza selvagem. O ecocentrista caracteriza-se pelos românticos americanos que advogavam democracia entre as criaturas de Deus. Distinguindo-se pelo forte apelo ético e espiritual, cuja defesa da natureza se apoiava fundamentalmente em instituições da sociedade civil. Preservacionista (contemplação) e conservacionista (manejo).

Ambas as correntes de pensamento, a ecocentrista e a tecnocentrista, hoje em dia, utilizam amplamente os resultados da ciência para fundamentar suas posições. Só que cada uma, segundo sua própria ótica, chega a resultados diferentes. Enquanto os tecnocentristas reivindicam as possibilidades humanas de administrar e dominar a natureza, partindo da ciência analítica convencional, os ecocentristas reivindicam as relações de harmonia com a natureza, apoiando-se na ecologia e nas leis da termodinâmica.

Referência Bibliográfica:

MCCORMICK, John. Rumo ao Paraíso. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1992.

LEIS, Héctor R. A Modernidade Insustentável: As críticas do ambientalismo à sociedade contemprânea. 1998. Disponível em http://www.ambiental.net/coscoroba/LeisParte1.pdf. Acessado em: 18/05/2007.
MEADOWS, D. et all. Os Limites do Crescimento. São Paulo: Perspectiva, 1992.

Por: Fabrizio de A. Ribeiro
www.fabrizioribeiro.blogspot.com

sexta-feira, 8 de maio de 2009